DEPOIMENTO À CPI DE PEDRO BARUSCO
PRESIDENTE [03:18]: Com a palavra o senhor Pedro Barusco para que possa proferir o juramento.
PEDRO BARUSCO: Faço sob palavra de honra a promessa de dizer a verdade do que souber e for perguntado.
PRESIDENTE: Vossa excelência se desejar tem o direito à palavra previamente por até 20 minutos para que vossa excelência fazer alguma explanação ou se vossa excelência desejar já ir para os questionamentos. Fica a cargo de vossa excelência. Vossa excelência tem a palavras por 20 minutos.
BARUSCO: Eu só queria dar bom dia a todos e dizer que estou aqui para colaborar e tentar esclarecer todos os fatos que forem levantados aqui nesta plenária.
PRESIDENTE: Houve um prévio compromisso desta presidência em um acordo feito com o depoente de que perguntas de foro íntimo, foro pessoal, ele não se sentirá na obrigação de responder. E eu faço um apelo aqui para que os deputados aqui presentes. Respeitem este compromisso que foi feito pela presidência. Já que nós demos a palavra na condição para que a sessão pudesse ser transmitida ao vivo.
DEPUTADO: Presidente apenas uma informação objetiva porque eu vi que tem colegas com muitas dúvidas. O senhor Pedro Barusco. A sua trajetória funcional na Petrobras? E a sua condição atual na investigação da Lava Jato? É objetivamente.
PRESIDENTE: Existe uma ordem que precisa ser respeitada. Quero dizer que os vice-presidentes aqui presentes que desejem sentar aqui na mesa, fiquem à vontade. Com a palavra o deputado Luis Sérgio, relator desta comissão parlamentar de inquérito.
RELATOR [05:50]: Vamos lá. Como e quando vossa senhoria se tornou gerente de tecnologia e instalações? Qual era, quais eram as suas atividades no cargo?
PEDRO BARUSCO: Então vou falar um pouquinho da trajetória para chegar nesse momento. Eu ingressei na Petrobras em 79 por concurso público. E sou engenheiro naval de formação acadêmica, e eu fui, eu inicialmente optei, depois do curso de formação, eu optei por trabalhar no centro de pesquisas. Onde eu fiquei por 15 anos. No centro de pesquisas, depois de ter feito uma carreira, vamos dizer assim, técnica, né? Aonde eu tive vontade de fazer o mestrado em engenharia oceânica na UFRJ. Logo após este mestrado eu fui convidado para a carreira gerencial. E fui gerente de tecnologia, né? Gerente setorial. Tecnologia de exploração. Produção. Na época que tinha, havia todas aquelas descobertas em águas profundas, naquele momento. Então foi nesse momento no centro de pesquisas que eu iniciei a carreira gerencial como gerente setorial de tecnologia. E aí eu fui seguindo na carreira, né, hierárquica da companhia. Eu fui depois convidado em 95 pra ir pro departamento de exploração e produção, e aí eu fui gerente de tecnologia, no departamento de exploração e produção. E no departamento de exploração e produção eu cheguei até gerente de produção interino. Subi mais um grau na carreira. Fiquei interino durante uns seis meses. E em 2003 eu fui convidado pra ser gerente executivo de engenharia na diretoria de serviços.
RELATOR [07:39]: Nessa… na sua entrada na Petrobras e na sua ascensão profissional no cargo de gerente, até chegar ao cargo de executivo, houve indicações políticas? Ou o você foi convidado direto por seus superiores imediatos para ocupar estes cargos na Petrobras?
PEDRO BARUSCO: Foi sempre indicação técnica, indicação selecionada por meus superiores. Eu não tinha nenhum contato político. Eu nunca tive indicação política.
RELATOR [08:16]: Vossa senhoria fez uma delação premiada, não é? E se propôs a devolver uma quantidade de recursos que recebeu indevidamente, e uma pergunta que paira sobre todos nós. A partir de quando o senhor percebeu a existência de fraudes, de propinas na Petrobras?
PEDRO BARUSCO: Como faz parte do meu termo de colaboração, né? Eu iniciei a receber a propina em 97/98, não é? Foi uma iniciativa pessoal minha junto com o representante da empresa. Eu descrevo no meu depoimento esta trajetória. E vou reinteirar o que está dito no depoimento, né? Agora de uma forma mais ampla, como vossa excelência mencionou, em contato com outras pessoas da Petrobras, de uma forma mais institucionalizada foi a partir de 2004. 2003… 2004… eu não sei precisar exatamente a data, foi mais a partir dali.
RELATOR [09:39]: Quer dizer que do ano de 97, quando você afirma que começou a receber estes ilícitos, você era o único que recebia? Só…
DEPUTADO (outro): Eu acho que o tratamento deve ser formal, deputado.
PRESIDENTE: Vamos continuar…
DEPUTADO (outro): Tem um deputado que está tratando o depoente por você. O tratamento tem que ser formal.
RELATOR: Ok…
PEDRO BARUSCO: Olha sobre esta questão existe uma investigação em curso. Eu sou investigado. Então, eu até assim selecionei esta parte aqui do meu depoimento. Eu acho que vou me deter ao depoimento. Eu não vou aprofundar estas questões que estão no meu depoimento por está ocorrendo uma investigação. Então, é… eu reitero o que eu já falei no depoimento da minha colaboração com a justiça.
RELATOR [10:47]: Mas no seu depoimento, na versão que circulou e que nós tivemos acesso, você lá… Vossa senhoria lá afirma que durante 32 anos de trabalho na Petrobras observou que a contratação de sondas sempre envolvia as mesmas companhias internacionais e que toda iniciativa do mercado nacional era repelida. De maneira que existia aparentemente uma espécie de “cartel” da aquisição de sondas. Então se eram as mesmas empresas, se você reconhecia que “havia uma cartel”, quer dizer, você que inicia na Petrobras este processo de recebimento de recursos ilegais? Dar pra fazer esta afirmação?
PEDRO BARUSCO [11:40]: Agora nós estamos nos remetendo a um outro assunto, que é a questão de sondas. Isto é fato. O serviço de perfuração na Petrobras, ele sempre foi realizado por empresas de perfuração, muitas delas estrangeiras, mas existem algumas brasileiras, e a Petrobras sempre contratou estas sondas. Ela nunca incentivou a construção destas sondas no Brasil. Então o que a gente via, eram estes contratos de sondas sendo colocados periodicamente. Dois ou três contratos. Um ou dois contratos. Renovações de contratos. E o serviço de sondagem sempre foi dominado por estas empresas. Até o ponto, eu acho que foi mais ou menos em mil. Não, 2007/2008. Até o ponto que, com a crescente demanda, chegou uma demanda na diretoria executiva pra contratar se eu não me engano. Se não estou errando com a memória. Dezoito sondas ao mesmo tempo. Foi aí que isto chamou atenção. Porque até então as sondas eram colocadas homeopaticamente. Quando chegou uma demanda por dezoito sondas, e naquele momento a gente pode se recordar havia uma determinação de que tudo que se podia fazer no Brasil tinha que ser feito no Brasil incentivando a indústria nacional. Surgiu aí um sinal amarelo. É tanto que na diretoria isto foi brecado. E foi levado ao ministério das minas e energia. Eu acho que ainda era a presidente Dilma a ministra de minas e energia. E houve ação natural, ou uma ação contrária tentando fazer estas sondas no Brasil. E isto foi a criação da Sete Brasil. A partir deste projeto e da determinação do Governo de fazer estas sondas no Brasil que foi o desenvolvido o projeto das Sete Brasil.
RELATOR [13:45]: Mas em relação, ainda voltando, às propinas recebidas em 97 ou 98 da empresa holandesa SBM, você reafirma que já naquele período estava recebendo recursos ilegais dos contratas dos quais vossa senhoria fazia a intermediação?
PEDRO BARUSCO: Não… olha… eu vou reiterar o meu depoimento…
RELATOR [14:15]: Não, mas o que ocorre é o seguinte que o que temos é uma versão. A versão não dar… porque não é um documento que chegou às nossas mãos aqui oficialmente. É uma versão que está distribuída na mídia. A pergunta é se você reafirma isto como verdade.
PEDRO BARUSCO [14:36]: Ué, eu reafirmo. Está escrito aqui. Eu reafirmo. É a minha versão. É a minha verdade. É o que aconteceu.
RELATOR [14:43]: Agora em relação aos recursos que você recebia, você não tem conhecimento de que outas pessoas também recebia? Você não tem é conhecimento de que outras pessoas recebiam?
PEDRO BARUSCO: Este é um assunto que eu não vou me estender aqui.
RELATOR [15:04]: Porque este fato, é preciso aqui nós nos aprofundarmos. Porque em relação ao período a que você se refere, de 1997 ou 1998, é um fato que foi profundamente divulgado na imprensa brasileira. Se pegarmos as reportagens da época, nós vamos verificar que a revista Veja, do qual tantos se referenciam, diz, fala da empresa marítima, que sozinha, sem ter estaleiro, sem ter parque industrial, sem ter financiamento. Sozinha abocanhou contratos de dois bilhões de dólares à época, não é? E também vamos verificar, o único que consegui encontrar foi no 05 de fevereiro de 1997. Um artigo no jornal O Globo do Elio Gaspari em que ele diz: “Dr. Rennó o senhor ganhou!” Se referindo ao fato da ação que o presidente da Petrobras entrou contra o Francis que já denunciava à época de que diretores da Petrobras teriam recursos ilícitos em bancos da Suíça. Quer dizer aqui há esta constatação que a imprensa profundamente divulgou à época porque como você está colaborando nós precisamos aprofundar este fato para que não passar a versão de que você fez mal feito e foi pego. E outros fizeram bem feitos e não foram pegos. Quer dizer, nós precisamos estancar e livrar a Petrobras do processo de corrupção em que ela está instalada. Então, por isso eu afirmo que à época destas reportagens aqui, como é que isto bateu dentro da empresa uma vez que neste período você já estava recebendo recursos ilegais?
PEDRO BARUSCO [17:21]: Olha, à época, eu era gerente de divisão que é o segundo escalão gerencial da companhia. Então eu não tinha contato assim direto com os diretores, com os presidentes. Eu não tinha, vamos dizer assim, a posição que eu tinha mais recentemente na Petrobras. Que era executivo. Onde eu estava toda hora na diretoria executiva, participava dos destinos da empresa. Então, eu não tenho conhecimento do Dr. Rennó. Eu nunca estive com o dr. Rennó. Conheci sim. Era uma figura distante pra mim. Eu não tinha naquela época esta influência ou esta atuação que eu tive mais recentemente na Petrobras. Eu não consigo nem comentar esta notícia porque eu não participava deste nível de decisão na época.
RELATOR [18:09]: Mas esta afirmação, esta afirmação é extremamente delicada. Porque você disse que era gerente de divisão. Que era uma posição hierárquica que não tinha grande influencia. E mesmo não tendo grande influência, já numa gerencia de divisão, conseguia arrecadar, como está em sua declaração, 1,4 milhões de dólares depositados na Suíça?
PEDRO BARUSCO [18:36]: Reitero o que eu já disse.
RELATOR: Vossa excelência…
DEPUTADO (outro): eu acho que o depoente não pode ser constrangido…. no depoimento, eu acho que….
PRESIDENTE [19:01]: Eu quero dizer ao deputado delegado Valdir que este presidente sabe muito bem conduzir os trabalhos. Vossa excelência como experiente delegado possa tentar o depoimento um pouco mais que nós. Mas aqui o amplo direito à palavra do relator será mantido como ele julgar necessário.
RELATOR [19:22]: Mas o cargo de gerente de divisão lhe dava autonomia plena para fechar os contratos? Ou haviam mais pessoas envolvidas no fechamento do contrato?
PEDRO BARUSCO [19:39]: Não, inclusive estes contratos não foram fechados por mim. Na época eu tinha uma atuação mais fortemente na área técnica.
RELATOR [19:47]: Se os contratos não eram fechados por você, se você não tinha o poder de decisão, como você negociava as propinas em relação a esses contratos neste período?
PEDRO BARUSCO [20:00]: Em relação a este período eu não vou aprofundar os meus comentários, porque existe uma investigação em curso. Eu me reservo ao direito de não comentar este tipo de detalhe.
RELATOR [20:20]: Vamos então um passo mais à frente. Vossa senhoria considera ser possível, do ponto de vista técnico e dos valores, que as comissões de licitação da Petrobras identifiquem a existência de conluio entre as empresas no momento da licitação?
PEDRO BARUSCO [20:45]: Eu acho muito difícil. Eu acho que a questão é mais externa. Eu acho a governança da Petrobras, apesar de ter acontecido o que está acontecendo, eu acho a governança da Petrobras boa. Eu acho que o problema não está nesse fato. Está nas pessoas. Está na instituição. Mas, a governança dos processos licitatórios é muito firme. Não vaza orçamento. A seleção das empresas é feita baseada num sistema que se chama PROGEF. Que seleciona as empresas. O que havia era formação de cartéis, externos. Havia contatos com alguns diretores, com alguns dirigentes. Mas eu não acho que os problemas estão localizados nas comissões de licitação.
RELATOR [21:44]: Vossa senhoria, na versão que nós tivemos conhecimento da delação que vossa senhoria está aqui afirmando, tendo ela como base, afirmando como sendo a versão que realmente expressou seu posicionamento na delação. Vossa senhoria afirma que o esquema descrito pela polícia federal, pelo ministério público federal, envolvia não apenas os contratos da diretoria de abastecimento, no comando do senhor Paulo Roberto Costa. Em vários de seus depoimentos afirma que outros diretores e demais gestores da Petrobras estariam envolvidos, inclusive a diretoria a qual pertencia. Poderia descrever aqui a forma de operação de cada um deles desde quando você participou?
PEDRO BARUSCO [22:45]: Bom, eu fazia parte da diretoria de serviços. A diretoria de serviços ela presta serviços para as outras diretorias, e também tem alguns trabalhos que ela desenvolve para ela mesmo. Então, quando a gente fala assim os contratos eram da área de serviço, só que eram contratos da área de serviço para atender uma demanda, por exemplo, da diretoria de produção. Contrato da área de serviço para atender demanda da diretoria de gás e energia, ou da diretoria de abastecimento ou da própria diretoria de serviços. Então o que vou falar é tudo concentrado na diretoria de serviços. O tema, o atendimento que pode ser para outras diretorias, mas os contratos eram licitados, aprovados, da diretoria executiva. Mas quem conduzia, o líder da condução era diretoria de serviços. Acompanhado, assessorado e solicitado por uma outra diretoria, que era a figura do cliente. Mas então os ilícitos que eu relatei foram todos contratos da diretoria de serviços.
RELATOR [23:55]: Como vossa senhoria recebia os recursos? Fazia repasses para outras pessoas? Como?
PEDRO BARUSCO [24:05]: É, isto também foi tema até de um anexo específico. Eu recebia praticamente tudo no exterior, como declarei nas contas na Suíça. Alguma coisa foi recebida aqui no Brasil, em espécime. Só que eu nunca paguei outros recursos para ninguém. Por isso que tinha esta quantia elevada que eu estou repatriando, estou junto com o ministério público na repatriação destes recursos. Isto vai ficar provado porque eu entreguei toda a documentação que eu nunca transferi recursos pra ninguém. O que se fazia era uma prestação de contas. Então, por exemplo, tinha que ter um depósito, sei lá, pra Renato Duque. Aquilo era direcionado para uma conta de Renato Duque. Se tinha que ter um depósito pra minha conta. Aquilo era direcionado para uma conta de minha propriedade. No exterior. Exatamente. Porque o seguinte eu recebia somente para mim e para o Renato Duque. Não recebi pra mais ninguém.
RELATOR [25:23]: Pra você… Pra agente político, você nunca repassou recursos, e nunca intermediou recursos?
PEDRO BARUSCO [25:33]: Não. O envolvimento com agente político ou representante de agente político era feito no momento da divisão, vamos dizer assim, da divisão do quantitativo da propina. Após a divisão, como foi colocado aqui em outra, até na CPI anterior, por exemplo, lá no contrato que pertencia à diretoria de abastecimento. Tinha lá normalmente 2%. Um porcento era para a diretoria de abastecimento. E aí então o diretor Paulo Roberto era responsável pra conduzir o recebimento, e o encaminhamento e o destino daquele 1%. O outro 1% era dividido metade para o PT e metade para a casa, como chamava. Que no caso era eu e o Renato Duque. Eu cuidava deste meio porcento que pertencia a mim e a Renato Duque. E dava o destino. E o outro meio porcento, quem conduzia, mais recentemente, quando o João Vaccari assumiu como tesoureiro do partido, ele que cuidava deste outro percentual.
RELATOR [26:37]: A casa era você e o Renato Duque?
PEDRO BARUSCO [26:42]: Sim. Era em quase 100% dos casos. Teve alguns casos que houve participação de outras pessoas.
RELATOR [26:49]: E estas outras pessoas, você pode nominar?
PEDRO BARUSCO [26:51]: Posso porque está em meu… tá no meu acordo de delação. Em alguns caso houve participação o dr. Jorge Zelada. E em pouquíssimo casos, eu me lembro só de um ou dois casos, participou também, o meu sucessor, o dr. Roberto Gonçalves.
RELATOR [27:15]: Mas além dos funcionários das empresas, da empresa Petrobras, dos agentes políticos do qual vossa senhoria se refere, a tesoureiro do partido, havia outras pessoas de fora da empresa, e de fora do esquema partidário, envolvido na distribuição destes recursos?
PEDRO BARUSCO [27:41]: Posso está esquecendo de alguma coisa, porque foram desde 2003 são 12 anos. Mas o mecanismo envolvia o representante da empresa, às vezes o próprio empresário, eu, o diretor Duque, e o João Vaccari. São os protagonistas digamos assim.
RELATOR [28:11]: No chamado, na versão de delação premiada, vossa senhoria faz acusações graves contra o senhor Renato Duque e o João Vaccari, como sendo, como tendo recebido recursos. Vossa senhoria no que se refere às contas no exterior afirma aqui que entregou a documentação, os números das contas, e em relação a este processo que envolve o nome do Renato Duque e do João Vaccari, Vossa Senhoria também entregou provas robustas que vão dar consistências à sua delação?
PEDRO BARUSCO: [28:50] Olha… isso… eu também gostaria até de aproveitar para esclarecer um detalhe que tem saído muito na mídia de que eu acusei o PT de receber duzentos milhões, ou cento e cinquenta milhões. Na realidade, eu estou aqui com meu termo de acordo, meu acordo aqui em mãos. O que eu disse foi que eu estimava. Estimava, que por eu ter recebido a quantia que está divulgada, como o PT tinha, ou cabia a ele receber o dobro ou pouco mais que eu estimava que ele poderia ter recebido o dobro. Porque se eu recebi porque os outros não teriam recebido. Entendeu? Eu acho que eu não tenho prioridade. Então eu acho que isto foi realizado. É só isto que eu disse. Eu não acusei nada. Eu falei que cabia a mim uma quantia. Eu recebi. Cabia ao PT uma outra quantia. E eu estimo que possa ter sido até cento e cinquenta ou duzentos milhões… eu não tenho este valor. É, de dólares. Está escrito aqui, ó. Eu estimo que… Afirma que considerando o valor que declara que recebeu a título de propina que foi ao redor de cento e cinquenta milhões de dólares, neste caso, estima que foi pago um valor um valor aproximado de cento e cinquenta a duzentos milhões de dólares. Foi isto que falei no meu depoimento. E não sei como o João Vacarri recebeu, SE RECEBEU, SE NÃO RECEBEU. Se foi doação oficial. Se foi pago lá fora. Se foi pago aqui dentro em dinheiro. EU NÃO SEI. Então existia, vamos dizer, uma reserva de propina. Uma reserva para o PT receber. Se ele recebeu. Da forma que recebeu. Eu não sei!
RELATOR [31:41]: Você não pode afirmar aqui se ele recebeu ou se não recebeu? Você está afirmando que na planilha que você teve acesso estava estipulado um valor. Agora se recebeu, se não recebeu, você não tem conhecimento?
PEDRO BARUSCO [30:54]: Não, não tenho conhecimento. Eu tenho conhecimento do que eu recebi. Do que cabia a mim na planilha.
RELATOR [31:02]: Agora, uma coisa continua me intrigando. Porque vossa senhoria como gerente de divisão que disse aqui que não era o prioritário da fila, que não tinha o poder de negociar e de decidir. Já recebia. Não tem conhecimento de outros. Então podemos aqui sair com a conclusão que o recebimento de propina na Petrobras nasce com você. Você é o pai da propina na Petrobras?
PEDRO BARUSCO [31:46]: Eu não acredito nisto (rindo).
RELATOR [31:50]: Mas o senhor não acredita. você responde não acredita rindo por quê? Em base no quê?
PEDRO BARUSCO [31:59]: Não, eu já falei, eu comecei em 97/98. Uma atitude isolada, né? Já detalhei até onde eu poderia detalhar sob já a investigação. E a partir de 2003 e 2004, houve uma fase onde estava institucionalizada este recebimento de propina, tá? Eu só sei isto. Eu não sei mais nada. Eu não sei dizer quem participou. Quem participou. Quem não participou.
RELATOR [32:26]: Vamos aqui mudar um pouco de ponto. Até porque isto há uma certa tensão no Rio de Janeiro. Hoje. Ontem os trabalhadores tinham ocupados inclusive a delegacia regional do trabalho. Quais as evidências que o senhor tem da atuação do cartel nas obras do complexo petroquímico do Rio de janeiro Comperj?
PEDRO BARUSCO [33:58]: Se o deputado permitir eu posso falar da Rnest e do Comperj? Porque é um atrás do outro. Porque o cartel a gente sentia que existia o cartel. Sabia que existia o cartel. Uma entidade. Não tinha nada concreto. A primeira ação do cartel efetiva que eu pude perceber foi na Rnest. Nos primeiros contratos. E depois o Comperj. Então vou falar primeiro da Rnest, da Abreu Lima. E depois eu vou atrás do Comperj. Porque foram ações diferentes que a gente teve em relação ao cartel. O que que aconteceu naquele momento? Havia um aquecimento de mercado. Havia muita obra. Muito investimento. E se colocou os pacotes grandes, os grandes pacotes da refinaria Abreu e Lima no mercado. Neste momento a gente pode perceber que as empresas vieram assim com preços altíssimos. Tipo o dobro do orçamento. Tanto que a primeira licitação foi cancelada sumariamente por preço excessivo. Abriu uma segunda licitação onde vieram as mesmas empresas já com preços um pouco melhores, mas mesmo assim com preço alto. Foi muito difícil negociar após a segunda licitação para trazer os preços para dentro da margem. Eu gostaria de ressaltar que os preços foram contratados dentro da margem. Mas a gente sentiu a ação do cartel das empresas, destas 14 empresas do núcleo do cartel, bem interligadas. Quer dizer as ações para quebrar, pra baixar preços, nós não conseguimos ter sucesso. E tivemos que fechar no limite. Dentro da regularidade, mas no limite superior da contratação. Isto aconteceu na Rnest. Quando chegou no Comperj, a mesma coisa. Quando se colocou os grandes pacotes, as empresas novamente vieram com os preços absurdos. Tipo o dobro. Foi cancelada sumariamente novamente. Foi feita nova licitação. Também foi no embate. É tanto que durou um ano cada licitação desta para tentar chegar e enquadrar os preços. Então nestes dois blocos de contratação, a gente sentiu uma ação muito forte do cartel. E eles conseguiram. Porque o mercado estava aquecido. Porque eles são as grandes empresas do Brasil. Eles tinham condição de fazer estes grandes pacotes. Então eles levaram os preços para o limite superior.
RELATOR [35:50]: Agora no Comperj, o senhor teve alguma atuação que culminou na definição da Alusa Engenharia para as obras do Comperj? Teve a sua efetiva participação? Pode narrar como se deu este…?
PEDRO BARUSCO [36:09]: Tá, este é um caso específico. Este é um caso que aconteceu. Vou relatar aqui. Mas não é o caso geral. A Alusa, ela tava participando, foi uma licitação do hidro craqueamento catalítico. É uma unidade bastante complexa. É uma tecnologia bastante complexa. Então foi colocada a licitação na rua. As empresas do cartel novamente vieram com preços altíssimos. Só que aconteceu um fato sui generis. Porque a Alusa, ela não estava conseguindo fechar um parceiro tecnológico. Por algum motivo. Uma dificuldade técnica. Ela não conseguiu fechar a proposta. Tanto ela pediu um adiamento. E no final tanto pediu mais adiamento que a gente acabou não dando. Então no primeiro “bid”, na primeira rodada de licitações, a Alusa ficou de fora. Ela não conseguiu entregar a proposta. Não teve tempo hábil de se articular com parceiro tecnológico. Ou seja, não conseguiu. E veio o preço altíssimo. Quando acontece um re-bid (rigging), porque um orçamento, ele até ser aberto no primeiro “bid”, ele é inexpugnável. Se vazar, ele tem DNA. A gente sabe de quem vazou. Só uma pessoa fecha o orçamento na véspera. Então isto não vazava. Nunca vazou. O que aconteceu é o seguinte. O que acontece ou acontecia era o seguinte. Quando se abria as propostas do primeiro bid, e aí em seguida se abria o orçamento. Neste momento o orçamento ficava, não é uma informação ostensiva, mas era uma informação que já circulava. Então quando se vai para o segundo bid. As empresas que participam do segundo bid, tendo participado do primeiro bid, já tem uma idéia. Porque se a Petrobras cancelou é porque estava excessiva. Então já tem uma indicação. E neste caso a Alusa chegou pra mim, e falou nesta vez a gente tem interesse, a gente quer ganhar. Aí eu falei, não me venha com nada a mais do quê um milhão e meio. Porque é o seguinte. Foi a única vez que eu dei uma dica. Vamos dizer assim. Porque a gente já tava assim impactado com o cartel. A gente queria fazer a obra. E o cartel vinha com preço alto. Preço alto. Preço alto. Preço alto. Então a gente tem que jogar assim um número. Olha, vem abaixo de um e meio. Porque a primeira proposta tava, se eu não me engano, tava mais de dois bilhões de reais. E a Alusa ganhou. Com um e quatrocentos e ganhou. Então houve este caso sim, e está relatado em minha delação.
RELATOR [39:00]: Eu vou fazer apenas aqui duas perguntas pra você propiciar aqui o debate. Mas dizer o seguinte, voltar ao tema que eu iniciei e se houver necessidade eu retorno com outras perguntas. Em 99, como eu aqui pude relatar, você está aqui do meu lado está vendo, em 97 a imprensa noticiava de que havia problemas nas licitações, havia acusações de que diretores tinham contas no exterior, e foi exatamente no período em que coincide com o que você afirma, vossa senhoria afirma de recebimento de recursos. Vossa senhoria em momento nenhum temeu chegar na condição em que se encontra hoje? De buscar, parar com isto? Aonde vossa senhoria encontrou força para verificar que nunca seria pego, e que ia conseguir juntar mais recursos no exterior? O que deu a vossa senhoria essa coragem de prosseguir por caminho que culminou nesta situação em que vossa senhoria se encontra?
PEDRO BARUSCO [40:10]: Eu até agradeço esta pergunta, porque na realidade este é um caminho que não tem volta. Quer dizer, a gente começa a receber recursos no exterior. O recurso é ilegal. Isto vai indo, vai indo. Vai crescendo, de um momento para o outro isto se torna uma espada em nossa cabeça. Porque não tem saída, não tem saída para isto. Este repatriamento que eu estou fazendo agora. Isto está me dando um alívio. As pessoas acham que não é isto. Mas é isto. Porque hoje em dia com a transparência que tem, com as colaborações que tem, este é um caminho sem volta. Então, se no começo eu tive a fraqueza de começar, teve uma fase que de repente eu fiquei feliz, depois esta felicidade foi se transformando em temor, e quase apavoramento de ter um volume deste de recursos ilícitos fora do País. Eu me sinto aliviado de ter devolvido, em estar participando do repatriamento. Eu estou engajado diretamente. Eu estou trabalhando com o Ministério Público. Uma parte já foi repatriado. Alguns bancos já confirmaram o repatriamento total. Eu espero em poucos meses repatriar tudo. Então é um caminho que eu não recomendo para ninguém. É muito doloroso. E infelizmente aconteceu e eu estou tendo a oportunidade de tentar reparar.
RELATOR: Então, a lição é de que o crime não compensa?
PEDRO BARUSCO: É.