David e Laura

http://www.viomundo.com.br/denuncias/adriano-diogo-depois-de-balear-david-pelas-costas-a-cgm-atirou-nele-de-novo.html

AUDIO. HOSPITAL

David. Cita o RG. Natural de Pernambuco. Mora há mais de 10 anos em S.J.C.

Tava dormindo e 5:00 da manha começaram os fogos. Minha esposa me disse que era o choque. Eles não fizeram cordão que costumam fazer. Eu sai às 5:30 e fui a casa de meu irmão. Quando voltei pra fazer o cadastro fui alvejado por uma bala. Fui fazer o cadastro porque minha casa foi totalmente destruída. Levei a bala quando sai do União e passei para o campo dos alemães. Tava eu minha esposa meu amigo e sua esposa. Aconteceu perto de uma padaria no campo dos alemães. O choque tava subindo e alguns meninos estavam reagindo. Eles deram tiro de verdade. Mais ou menos na rua sete. Eram guardas municipais. Eram uns quinze. Farda azul. Com arma em punho. Nervosos. Despreparados. E deu no que deu. Eu tava só passando. Minha esposa queria volta pra casa. Mas ninguém passava. Nem reportagem. O guarda que me atingiu é um senhor que usa óculos e tava mais nervoso. Ele tava de boné azul. Eu consigo reconhecer. Vi a hora que ele tirou a arma. Vi a hora que minha esposa começou a correr. E aí fui atingido. Fui atingido na região lombar. Cai de frente pra praça e fui me arrastando com medo de ele dar outro tiro. Outro colega viu, e me pegou pelos braços e saiu comigo correndo. É até uma imagem das emissoras aí. Não sei qual é. Ele se aproximou pra dá outro tiro. Não só ele, mas outros também para atirar na população. Deu pra ouvir o segundo tiro pegando no asfalto.

Pode subir ali. Naquele microfone.

Nós vamos ouvir as pessoas por ordem. Conte dona Maria Laura.

MARIA LAURA:

Boa noite, aos meus colegas do acampamento. E foi tudo aquilo que meu marido falou e mais um pouco. Quem tava lá consegue decifrar o que sentia na pele. Fomos acordado pela manha por uma vizinha. Descobrimos que o acampamento estava cercado. Nossa preocupação era proteger nosso bebê de 10 meses. Corremos tanto do perigo, mas acabamos chegando ao seu lado. Minha intensão depois era voltar a minha casa para tentar resgatar alguma coisa. Não consegui fazer isto por conta do que aconteceu. Ninguém sabia explicar o que estava acontecendo. Era helicóptero jogando bomba. Eu não conhecia bala de verdade. Mas meu marido me falou pra eu ficar perto do muro. Mas eu perdi meu marido da vista. Quando consegui ver ele. Ele já estava no chão se arrastando. E os colegas tentavam ajudá-lo mas estavam com medo de ser baleado. Um colega corajoso, não teve medo das balas, e foi até meu marido. Varios disparando balas de verdade contra a população. Eu não consegui voltar a minha casa. Só consegui voltar na quarta feira, quando consegui um caminhão particular. Mas não tinha mais nada na minha casa. De lá pra cá muita tristeza. Até agora sem serviço social. Só isso.

MUITO OBRIGADO, Maria Laura.

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